Hatshepsut: a rainha faraó. (parte IV – final e repercussões)
Após o auge de seu reinado, marcado pela inauguração do Djeser-Djeseru, Hatshepsut sofreu alguns reveses. Entre o ano 11 e o ano 16 sua filha amada, a quem ela aparentemente estava treinando para ocupar seu lugar, dando-lhe os mesmos títulos que ela mesma possuía em sua juventude, desaparece. Havia a hipótese de que ela havia morrido neste período, mas uma inscrição retocada de Tutmés III em seu templo mortuário, datada do ano 23 de seu reinado mostra que originalmente seu nome estava lá, tendo sido substituído pelo de sua esposa, Sitiah, fazendo com que Neferure tenha sobrevivido à sua mãe.
A hipótese da morte de Neferure foi utilizada para justificar o desaparecimento de Senenmut, ocorrido na mesma época, com a suposição de que ele teria caído em desgraça por ter sido negligente ao cuidar da princesa, sendo por isso punido. Mas se Neferure sobreviveu, o caso pode ter sido justamente o oposto. Senenmut é quem deve ter morrido, possivelmente de causas naturais, pois poderia estar então beirando ou com mais de 60 anos, o que era uma idade elevada para os padrões da época. Sem este poderoso apoio, Hatshepsut pode ter se submetido a certas concessões e se aproximado mais de seu sobrinho-enteado e co-regente até então apagado. Para isso ela pode ter aberto mão de impor sua filha como sucessora, casando-a com Tutmés III. Neferure pode ter sido mãe de Amenemhat e Meritamon, respetivamente seu filho e filha mais velhos.
O silêncio dos últimos anos do reinado de Hatshepsut pode ter sido reflexo deste arranjo, com Tutmés já dirigindo operações militares na Núbia e na Ásia, ainda que não registradas, dadas as convenções da época citadas no tópico anterior. Tanto é que, logo após a morte (ou aposentadoria) de Hatshepsut no Ano 22, ele estava à frente de uma mega-operação militar para sufocar várias revoltas na Síria-Palestina, o que demandaria vários meses ou mesmo anos de preparo organizacional.
A múmia identificada como sendo a de Hatshepsut é de uma mulher gorda, baixinha e ruiva, fazendo lembrar uma judia polonesa. Ela era diabética, e morreu com cerca de 60 anos de idade de septicemia por abcesso dentário. Tendo governado por 22 anos, ela pode ter assim subido ao trono já beirando os 40 e, subtraindo os reinados de seu irmão-esposo e de seu pai, ela poderia já ser uma adolescente quando este último subiu ao trono, o que dificilmente pode der ocorrido. Outro fato interessante, é que Hatshepsut pode ter sido sepultada como rainha, e não como faraó, já que sua múmia não se encontra em “posição de faraó”, com os braços cruzados sobre o peito, mas com apenas um braço nesta posição e o outro estendido ao lado, paralelo ao corpo, como uma rainha ou Esposa do Deus. Isso pode sinalizar que ela tenha abandonado seu posto de rainha faraó e vivido pelo menos mais uma década na função mais apagada de rainha viúva. A dificuldade de aceitar isso é que não seria fácil de admitir que ela simplesmente tenha se contentado com tão pouco após exercer o poder supremo de forma tão formidável.
De qualquer forma, nada evidencia que Hatshepsut e Tutmés tivessem outro tipo de relação que não fosse a de respeito mútuo, e que um soube dar lugar ao outro conforme a ocasião. Diferente do que se costumava pensar, Tutmés III não começou a apagar a memória de Hatshepsut logo que se viu sozinho. Pelo contrário, muitos dos cortesãos e oficiais de Hatshepsut continuaram suas carreiras no seu reinado solo, e quando ele mandou construir seu próprio templo funerário, o fez entre o de Hashepsut e Mentuhotep II em Deir el-Bahari, sem mexer na arquitetura de nenhum daqueles dois. Sua segunda esposa, mãe do príncipe-herdeiro, chamada de Meritre, teve adicionado a seu nome o de Hatshepsut, para recordar uma continuidade simbólica do poder. No entanto, após a morte de seu primogênito Amenemhat, que possivelmente era neto de Hatshepsut, a sucessão passaria para alguém não diretamente aparentado com ela, o futuro Amenhotep II. A mãe deste tendo o nome de Hatshepsut e com cargo de Esposa do Deus poderia não ser o suficiente. Assim, apenas no ano 42 de seu reinado, 20 anos após a morte de Hatshepsut, quando o príncipe Amenhotep tinha seis anos de idade, é que Tutmés III ordenou a supressão sistemática de menções a ela como faraó, assim como a de alguns de seus colaboradores mais próximos (sobretudo Senenmut), promovendo postumamente sua mãe, a plebeia Ísis, aos cargos de Grande Esposa Real e Esposa do Deus. Isso seria simplesmente uma estratégia para abrir caminho para a legitimidade da sucessão do futuro Amenhotep II. Nada movido pelo ódio, mas puro pragmatismo político.
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IMAGEM: Múmia identificada como sendo Hatshepsut.
Robson Cruz.
Equipe Egiptologia Brasil
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