sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Studio Mil e Uma Noites

Hatshepsut: a rainha faraó. (I – suas origens)



Hatshepsut: a rainha faraó. (I – suas origens)

No Antigo Egito, as mulheres tinham grande atuação social, em comparação até mesmo com mundo ocidental de antes de 80 anos atrás. No exercício do poder político elas podiam ser mais que meras ferramentas intercambiadas em casamentos de aliança e de conveniência, e o país foi governado algumas vezes por elas ainda que, na maioria das vezes, associadas a seus esposos ou filhos, que eram titulares do poder. Mas houve algumas exceções, ainda que bem poucas, de mulheres que reinaram em seu próprio nome, exercendo o poder supremo. Isso ocorreu apenas 4 vezes na história do Egito faraônico, usualmente em momentos de crise: no final da 6ª Dinastia, finalizando o Antigo Império, a rainha viúva de Merenre II, chamada Nitocris (Neithikerti) governou como faraó. Isso se repetiu no final do Médio Império, com a irmã de Amenemhat IV (que, curiosamente, não era sua rainha), subiu ao trono como faraó Neferu-Sobek. No fim da 19ª Dinastia, em meio às disputas no clã raméssida, Tausert, uma das filhas do faraó Merneptah e viúva de Seti II, sucedeu a seu enteado Siptah como rainha faraó. É possível que no fim da conturbada Era de Amarna uma das filhas de Akhenaton possa ter governado como faraó, adotando o nome de trono de Ankh-Kheperure, mas isso nunca foi totalmente confirmado. Todas tiveram reinado bastante curto. Mas com Hatshepsut o caso foi ligeiramente diferente.

Hatshepsut nasceu no começo da brilhante 18ª Dinastia, de uma linhagem de mulheres fortes, como Ahhotep, a Libertadora, viúva do faraó Sekenenre Tao e mãe do faraó Ahmés, e que deu continuidade ao processo de expulsão dos hicsos durante a menoridade daquele; a irmã-esposa de Ahmés, chamada Ahmés-Nefertari, cuja importância na sua própria época a fez ser apontada como Segundo Profeta de Amon, além do tradicional posto de Esposa do Deus, governando o Egito na menoridade de seu filho Amenhotep I que, por sua vez, morreu sem filhos vivos. O sucessor de Amenhotep, de um ramo paralelo da família real foi entronizado como Tutmés I, mas seu pleito só pôde ser legitimado pela adoção da irmã deste, que também chamava-se Ahmés pela rainha-viúva-mãe, que se tornou sua rainha. Há até pouco tempo atrás, havia a “hipótese da herdeira”, pela qual a rainha Ahmés II seria filha do faraó Ahmés e Ahmés Nefertari, com a qual Tutmés I teria se casado para se legitimar no trono, o mesmo ocorrendo com seu filho Tutmés II, que seria filho de uma plebeia, e que se casou com Hatshepsut pela mesma razão. No entanto, Ahmés II em lugar nenhum é chamada de “Filha do Rei”, o que seria fundamental neste processo, mas apenas de “Irmã do Rei”. A mãe de Tutmés II, Mutnofret, é que era chamada de “Filha do Rei” o qual, pela idade de seus filhos, só poderia ser o faraó Ahmés, ou talvez de Kamés, pois ela não era chamada de “Irmã do Rei”, sendo que deveria ser irmã de Amenhotep I. Isso tornaria Tutmés I genro de um faraó “tampão”, cujo status em vida era um tanto ambíguo (o sarcófago de Kamés não tinha o ureus e ele não era referido pelo protocolo faraônico nos monumentos de sua época, e filho de uma senhora chamada Senisenb sem maiores informações a respeito, muito menos o nome de seu pai, que se conjectura como tendo sido um príncipe chamado Ahmés Sapair, um filho hipotético do faraó Sekenenre Tao que foi deificado. 

Enfim, Tutmés e Ahmés tiveram dois filhos e duas filhas: Amenmés, Wadjmés, Hatshepsut e Neferubiti. Os rapazes e Neferubiti morreram muito jovens, e foram deificados, sendo que o culto de Wadjmés particularmente durou bastante tempo. Com Mutnofret, Tutmés I teve o príncipe Tutmés, o sucessor, além de Ramose, e possivelmente mais um outro chamado Ahmés. No entanto, com exceção do futuro Tutmés II, Hathsepsut e Neferubiti, ainda há dúvidas sobre a quem era as respectivas mães dos filhos de Tutmés I. O fato de Hatshepsut ter sido filha de duas pessoas que não eram filhos de faraós torna ainda mais impressionante o nível de sua ambição, diante de herdeiros mais legitimáveis. Mas foi ela quem herdou o título de “Esposa do Deus”, de grande importância política e cerimonial. Não é impossível que a própria Ahmés-Nefertari tenha lhe conferido este posto, já que esta ainda encontrava-se viva ainda no reinado de Tutmés I, tendo morrido com mais de 70 anos, segundo exames em sua múmia. Na condição de Esposa do Deus, Hatshepsut tinha direito a consideráveis propriedades, com plantações, gado, manufaturas, administrada por um Intendente e um exército de escribas, cortesãos e seu próprio “harém”, na verdade um centro de manufatura, arte e entretenimento. Ou seja, ela tinha sua própria “corte”, sendo um poder a ser considerado dentro do Estado. Seu Intendente era filho de um certo Ramose, apenas conhecido como "o nobre", sem nenhum cargo no governo e de Hatneferet, que era uma dama da corte de Ahmés-Meritamon, a rainha de Amenhotep I. O filho de Ramose e Hatneferet começou sua carreira no reinado deste faraó, e se chamava Senenmut, escriba e arquiteto. Seu nome significa “irmão da mãe”. Senenmut empregou seus irmãos e cunhados na grande empresa que era o “Estado da Esposa do Deus” e, quando Hatshepsut se tornou rainha, sua carreira deu uma grande decolada, sendo agora membro da corte faraônica. 

>>•<<

IMAGEM: Cabeça esculpida de Hatshepsut encontrada em seu templo mortuário em Deir El-Bahari, com seu característico perfil tutmósida, não muito diferente do dos felás (camponeses) do sul do Egito atual.

Robson Cruz.
Equipe Egiptologia Brasil.



SE desejar agendar uma Aula de Dança do Ventre experimental em Ji-Parana e
Só agendar pelo face ou cel 84519006 ou wats 84896365.
Vamos te receber com muito carinho
Exclusivo para MULERES


Nenhum comentário:

Postar um comentário